O Cineclube Équio Reis, este mês, sai da parte interna da Casa dos Artistas e ganha a rua, chamando atenção das pessoas com a exibição de filmes mudos do mestre, Buster Keaton. O filme desta última terça, dia 17, foi "Sherlock Jr". Veja abaixo a crítica de Luíz Santiago sobre o filme.
Foi-se o tempo em que o cinema nos fazia rir pelo que tinha de melhor. O humor físico, longe da comédia pastelão, teve em filmes de Chaplin e Buster Keaton, a sua morada plena. Ao vermos uma obra do porte de Sherlock Jr., é quase um absurdo acreditar na engenhosidade da gag e na perfeição de sua execução pelo autor geral do filme: Keaton, o homem que não sorria.
Uma história aparentemente sem atrativos ganha a maior das atenções da plateia. A cada nova situação, o espectador sente-se arrebatado para um mundo aonde o riso vinha com inteligência e muito rigor técnico de apresentação. Nesse ponto, olhamos para a linha do tempo cinematográfico e percebemos que, embora tenhamos alcançado um alto nível tecnológico, retrocedemos em conteúdo. Buster Keaton é representante de um cinema há muito deixado de lado, primeiro em detrimento da palavra plena, depois, em detrimento de qualquer coisa que velha a ridicularização dos atores ou figurantes em cena.
Sherlock Jr. é um dos adoráveis filmes metalinguísticos da era muda, e nos lembra bastante a trama de A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen. Aliás, o “entrar na tela” é algo muito comum nesse filme de 1924. É como se Buster Keaton fizesse mise en abyme com a película, forçando a personagem principal entrar na tela do filme, em um cofre, em um espelho. As indicações são ótimas, muito bem filmadas e com um timming de execução irreparável. Uma investigação de roubo de joias feita por um projecionista de cinema que quer se tornar detetive não poderia dar muito certo, mas no caso de Sherlock Jr., torna-se uma obra prima do cinema. Em um tempo onde não havia efeitos especiais e sequer som no cinema, fazer comédia exigia não só a criatividade e inteligência dos envolvidos, mas um conhecimento de câmera e filmagem capaz de capturar a contento o que se apresenta. E mesmo com todas as dificuldades, Buster Keaton consegue fazer uma obra rica, engraçada, bela, e terna. Hoje, 87 nos depois ainda rimos com o filme; e de maneira muito irônica, não conseguimos esboçar sequer uma reação para a maioria das comédias contemporâneas. Vejam só o que o tempo e a busca desenfreada por bilheterias fez com a Sétima Arte...
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